Além de orientar e organizar sessões de treino e de criar nas pessoas o gosto pelo exercÃcio, um dos nossos principais objectivos é ensinar as pessoas a treinar. A indústria do exercÃcio fÃsico, sendo um negócio multimilionário, está particularmente propensa à divulgação de informação falsa, visto que os interesses económicos se sobrepõem, na maior parte das vezes, aos interesses dos consumidores. Todos nós somos bombardeados, através de vários meios de comunicação, com essa informação falsa ou enganosa: desde planos de treinos milagrosos aos "X melhores exercÃcios" para determinado objectivo.
Além de muita dessa informação ser errada, ou não ter qualquer fundamentação cientÃfica, dificilmente este tipo de prescrições fará sentido, porque a decisão de elaborar qualquer plano de treino (como qualquer outra prescrição, em outras áreas) deve depender sempre de dois factores: objectivo (ou necessidade) e limitações de cada indivÃduo. Dois indivÃduos com o mesmo objectivo podem não responder da melhor forma a um mesmo exercÃcio porque têm diferenças anatómicas. Dois indivÃduos anatomofisiologicamente semelhantes podem não usufruir do mesmo exercÃcio porque um quer alcançar o dobro do seu peso no agachamento e o outro quer completar uma maratona em menos de 3 horas. Claro que prescrever 30 minutos de caminhada a toda a gente sedentária dificilmente comportará algum risco e seria melhor do que nada, mas os benefÃcios são muito limitados em relação à quilo de que o nosso corpo precisa e é capaz.
No entanto, a realidade é que, tirando atletas profissionais e alguns amadores, a grande maioria de nós não tem nenhum objectivo especÃfico de rendimento. Todos sabemos que o exercÃcio faz bem e que deve ser praticado numa base regular, mas pouco mais sabemos sobre qual a melhor maneira de proceder. Daqui, toda uma industria emerge, que preda nessa incerteza, na nossa insegurança e na influência que a atracção sexual exerce sobre nós e nos compele a ter objectivos de treino unidimensionais e, na maioria das vezes, meramente estéticos. O corpo humano é muito versátil na sua expressão: desde locomoções muito rápidas, a menos rápidas mas muito duradoiras; desde grandes feitos de força (levantar o dobro do peso corporal) a incrÃveis feitos de mobilidade e coordenação (rodas, pinos e até saltos mortais). Entristece-nos ver que grande parte dessas competências raramente são exploradas. Apesar de tudo, deixemos bem claro que não nos opomos de forma alguma a pessoas que apenas queiram ser o mais fortes ou bem constituÃdas possÃvel, ou que tenham qualquer outro objectivo bastante especÃfico. Apenas não é isso que praticamos.
Nos nossos treinos tentamos trabalhar todas essas competências, formando, assim, indivÃduos versáteis, tanto do ponto de vista motor como fisiológico. Em todas as sessões trabalhamos um pouco de tudo, mas em cada uma temos um foco numa diferente competência dentro das seguintes: força, resistência, mobilidade/coordenação e velocidade. A seleção dos exercÃcios é baseada nos principais movimentos do corpo humano: puxar, empurrar, agachar, correr, saltar, etc., e não na visão redutora, e ainda largamente aceite, de trabalho por músculos ou grupos musculares. Após selecionar os exercÃcios para servir o objectivo da sessão, ajustamos o volume (número de repetições), a intensidade (carga) e a organização do treino (circuito ou séries) com o mesmo intuito.
Os treinos de força são, normalmente, compostos por exercÃcios mais básicos, de intensidade mais elevada, de menor volume total e organizados em séries.
Os treinos de resistência integram vários exercÃcios diferentes, com intensidade mais baixa, maiores volumes e são organizados em circuitos contÃnuos, geralmente controlados por tempo.
Os treinos de mobilidade e coordenação são constituÃdos, essencialmente, por exercÃcios que assim o exigem: pontes, pinos, rodas, gatinhar, exercÃcios de equilÃbrio e todas as progressões e regressões correspondentes.
Por fim, os treinos de velocidade, têm como principal foco os rápidos deslocamentos e respectiva execução técnica.
Fazemos também treinos gerais onde trabalhamos um pouco de tudo, de forma mais ou menos equitativa. Todos os treinos são precedidos por um aquecimento, que, invariavelmente, inclui exercÃcios gerais de mobilidade e coordenação, e são seguidos de um retorno à calma, com relaxamento, alongamentos e dois dedos de conversa.
Concluimos, reforçando a ideia de que não somos contra objectivos de treino puramente estéticos nem demasiado especÃficos, mas gostarÃamos que se tivesse mais presente que o corpo humano é tão mais complexo e capaz do que os músculos que o constituem. E parece-nos redutor não explorá-lo ao máximo enquanto o temos.
Venham treinar connosco.
Outduros
12 de Setembro de 2018